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Pais e adolescentes: separar para aproximar

Por Maria Carolina de Araújo Martins

<p>Estou lendo um livro psicanal&iacute;tico sobre a adolesc&ecirc;ncia. Nele a autora fala sobre a import&acirc;ncia da separa&ccedil;&atilde;o no processo da adolesc&ecirc;ncia. Portanto, a presen&ccedil;a dos pais &eacute; necess&aacute;ria justamente para que esse adolescente possa dar in&iacute;cio &agrave; fun&ccedil;&atilde;o de separa&ccedil;&atilde;o.</p> <p>&Eacute; atrav&eacute;s da presen&ccedil;a dos pais que o adolescente tem a possibilidade de realizar a escolha de estar junto ou n&atilde;o. &nbsp;Na inf&acirc;ncia, compreendemos que a crian&ccedil;a toma como verdade tudo aquilo que lhe &eacute; passado, e &eacute; importante que receba mesmo; e durante a adolesc&ecirc;ncia, &eacute; importante que continue recebendo, no entanto, como a autora pontua, &eacute; importante que tenha algu&eacute;m para fazer a transmiss&atilde;o.&nbsp;</p> <p>Muitas vezes os pais se veem numa sinuca de bico com seus adolescentes, compreendem como a fase mais dif&iacute;cil, de rebeldia, acreditam que n&atilde;o s&atilde;o mais ouvidos ou respeitados e por conta disso, eles mesmos iniciam a separa&ccedil;&atilde;o antes mesmo desses adolescentes poderem faz&ecirc;-la, portanto, inverte-se o processo. No momento em que o adolescente percebe que essa separa&ccedil;&atilde;o aconteceu, mas n&atilde;o por escolha dele, surge o sentimento de abandono.&nbsp;</p> <p>Sustentar a adolesc&ecirc;ncia pode ser bem complicado para alguns pais. Suportar a separa&ccedil;&atilde;o iniciada pelos adolescentes exige resistir aos ataques, &agrave;s provoca&ccedil;&otilde;es, aos desapontamentos, as diferen&ccedil;as. Implica em investimento, dedica&ccedil;&atilde;o e amor. Quando crian&ccedil;as, tomamos como verdade aquilo que nos &eacute; transmitido, mas na adolesc&ecirc;ncia isso muda, pois se inicia os questionamentos desses mesmos valores, o processo de diferencia&ccedil;&atilde;o e &eacute; importante dar vaz&atilde;o a isso.&nbsp;</p> <p>A separa&ccedil;&atilde;o dita aqui &eacute; dos pais idealizados. Os pais agora s&atilde;o vistos como seres que falham. &Eacute; o momento em que n&atilde;o mais se deseja satisfazer as demandas e necessidades dos pais. Mas isso s&oacute; &eacute; poss&iacute;vel quando o adolescente entende que ao faz&ecirc;-lo, n&atilde;o perder&aacute; o amor de seus pais, justamente por ter tido provas que n&atilde;o perde esse amor facilmente. Mas existe a realidade de adolescentes que temem e acreditam que ao tomar um caminho diferente, perder&aacute; esse amor. Em algum momento esse adolescente entendeu que precisa ainda satisfazer essas demandas, que seu desejo n&atilde;o pode estar direcionado para outra coisa, na tentativa de se proteger contra o desamparo.&nbsp;</p> <p>Por&eacute;m, entende-se que o desamparo &eacute; um sentimento que n&atilde;o se encerra, pois ele existe e persiste. A diferen&ccedil;a &eacute; poder ter um suporte para enfrent&aacute;-lo com certa autonomia. Portanto, veja que paradoxo! At&eacute; para exercer autonomia &eacute; necess&aacute;rio que haja algu&eacute;m para auxiliar e poder atravessar esse percurso.</p> <p>Maria Carolina&nbsp;de Ara&uacute;jo Martins<br /> Psic&oacute;loga pela Universidade de S&atilde;o Caetano do Sul. Atendimentos no Espa&ccedil;o Cl&iacute;nico Mari Figueiredo.&nbsp;<br /> &nbsp;</p>

Imagem: Folha de Ribeirão Pires

Maria Carolina de Araújo Martins

Psicóloga

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