<p>Estou lendo um livro psicanalítico sobre a adolescência. Nele a autora fala sobre a importância da separação no processo da adolescência. Portanto, a presença dos pais é necessária justamente para que esse adolescente possa dar início à função de separação.</p> <p>É através da presença dos pais que o adolescente tem a possibilidade de realizar a escolha de estar junto ou não. Na infância, compreendemos que a criança toma como verdade tudo aquilo que lhe é passado, e é importante que receba mesmo; e durante a adolescência, é importante que continue recebendo, no entanto, como a autora pontua, é importante que tenha alguém para fazer a transmissão. </p> <p>Muitas vezes os pais se veem numa sinuca de bico com seus adolescentes, compreendem como a fase mais difícil, de rebeldia, acreditam que não são mais ouvidos ou respeitados e por conta disso, eles mesmos iniciam a separação antes mesmo desses adolescentes poderem fazê-la, portanto, inverte-se o processo. No momento em que o adolescente percebe que essa separação aconteceu, mas não por escolha dele, surge o sentimento de abandono. </p> <p>Sustentar a adolescência pode ser bem complicado para alguns pais. Suportar a separação iniciada pelos adolescentes exige resistir aos ataques, às provocações, aos desapontamentos, as diferenças. Implica em investimento, dedicação e amor. Quando crianças, tomamos como verdade aquilo que nos é transmitido, mas na adolescência isso muda, pois se inicia os questionamentos desses mesmos valores, o processo de diferenciação e é importante dar vazão a isso. </p> <p>A separação dita aqui é dos pais idealizados. Os pais agora são vistos como seres que falham. É o momento em que não mais se deseja satisfazer as demandas e necessidades dos pais. Mas isso só é possível quando o adolescente entende que ao fazê-lo, não perderá o amor de seus pais, justamente por ter tido provas que não perde esse amor facilmente. Mas existe a realidade de adolescentes que temem e acreditam que ao tomar um caminho diferente, perderá esse amor. Em algum momento esse adolescente entendeu que precisa ainda satisfazer essas demandas, que seu desejo não pode estar direcionado para outra coisa, na tentativa de se proteger contra o desamparo. </p> <p>Porém, entende-se que o desamparo é um sentimento que não se encerra, pois ele existe e persiste. A diferença é poder ter um suporte para enfrentá-lo com certa autonomia. Portanto, veja que paradoxo! Até para exercer autonomia é necessário que haja alguém para auxiliar e poder atravessar esse percurso.</p> <p>Maria Carolina de Araújo Martins<br /> Psicóloga pela Universidade de São Caetano do Sul. Atendimentos no Espaço Clínico Mari Figueiredo. <br /> </p>
Imagem: Folha de Ribeirão Pires
Maria Carolina de Araújo Martins
Psicóloga