Artigos

Sem choro, nem vela

Por José Renato Nalini

<p dir="ltr">Quase tr&ecirc;s mil esp&eacute;cies caminham para a extin&ccedil;&atilde;o, de acordo com o IBGE &ndash; Instituto Brasileiro de Geografia e Estat&iacute;stica. O Brasil conseguiu catalogar quase doze mil esp&eacute;cies na Mata Atl&acirc;ntica, o bioma de maior densidade populacional do pa&iacute;s. Destas, quase vinte e cinco porcento est&atilde;o amea&ccedil;adas de extin&ccedil;&atilde;o. Isso equivale a quase tr&ecirc;s mil sob risco de desaparecimento.</p> <p dir="ltr">Isso significa algo que deveria preocupar os habitantes do sudeste: pois seja a propor&ccedil;&atilde;o, de quase um quarto de todas as esp&eacute;cies, como o n&uacute;mero absoluto delas, superam o resultado apurado em rela&ccedil;&atilde;o aos outros seis biomas. A pesquisa Contas de Ecossistemas: esp&eacute;cies amea&ccedil;adas de extin&ccedil;&atilde;o no Brasil indica a Mata Atl&acirc;ntica, a nossa regi&atilde;o, como a mais vulner&aacute;vel em todo o nosso imenso territ&oacute;rio.</p> <p dir="ltr">Dentre as esp&eacute;cies amea&ccedil;adas, pode-se mencionar o lobo-guar&aacute;, a tartaruga de pente, o boto cinza, o jacu-de-alagoas, a rolinha do planalto, a r&atilde;zinha de barriga colorida, a r&atilde; de corredeira, o murucututu, a jararaca de alcatrazes, o gavi&atilde;o cinza e o atob&aacute; de p&eacute;-vermelho, como os bichos mais pr&oacute;ximos do desaparecimento. J&aacute; em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; flora, correm grande risco o pente de macaco, o breu sem cheiro, o umbu-caj&aacute;, o jaborandi, a canelinha, a brasiliana, o gravat&aacute;, o pau-brasil, a L&eacute;lia, o brinco-de-princesa, o palmito-ju&ccedil;ara, a arauc&aacute;ria, o pau-ferro e o lab&atilde;o.</p> <p dir="ltr">Isso coincide com a apura&ccedil;&atilde;o do desmatamento da Mata Atl&acirc;ntica, incessante e inclemente. Em 2022, destruiu-se o equivalente a cento e vinte e cinco vezes a &aacute;rea do Parque Ibirapuera. J&aacute; resta pouco remanescente daquilo que era a exuberante biodiversidade quando os portugueses aqui chegaram em 1500. Mas o est&iacute;mulo exterminador dos &uacute;ltimos anos, o avan&ccedil;o da agricultura e a ocupa&ccedil;&atilde;o do solo para densifica&ccedil;&atilde;o residencial faz com que esse antigo para&iacute;so sofra perigosa redu&ccedil;&atilde;o de &aacute;rea.</p> <p dir="ltr">Assiste-se a essa trag&eacute;dia sem rea&ccedil;&otilde;es e sem lamentos. Celebram-se dias festivos, o do meio ambiente, o da &aacute;rvore, o da &aacute;gua. Mas a derrubada insana prossegue. Nunca mais, dizia o corvo de Edgar Alan Poe. Nunca mais encontrar na floresta as esp&eacute;cies que a cupidez e a ignor&acirc;ncia condenaram a ser mem&oacute;ria e a residir, exclusivamente, na arqueologia da hist&oacute;ria.</p> <p dir="ltr">&nbsp;</p> <p dir="ltr">Jos&eacute; Renato Nalini</p> <p dir="ltr">&nbsp;</p> <p dir="ltr">Diretor-Geral da UNIREGISTRAL, docente da P&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o da UNINOVE e Secret&aacute;rio-Geral da Academia Paulista de Letras</p>

Imagem: Folha de Ribeirão Pires

José Renato Nalini

Diretor-Geral da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras

Mais lidas agora

Mais Artigos